Música

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Edmar Ribeiro

 

 

Pádua: A voz goiana que encanta o Brasil

 

Pádua, compositor e cantor goiano que traz consigo uma trajetória rica em experiências e desafios. Nascido em Goiânia no dia 26 de dezembro de 1959, Pádua costuma brincar que nasceu no "dia internacional da ressaca". No entanto, os goianos têm o privilégio de considerar Pádua uma das vozes mais marcantes do Brasil, com uma sonoridade que é, sem dúvida, ímpar.

 

 

Desde os primeiros anos de vida, a música se tornou uma constante na história de Goiás, um estado que, nas décadas de setenta e oitenta, pulsava com ritmos e estilos variados. Durante esse período, a cena musical goiana começou a se destacar, refletindo as transformações sociais e culturais que moldavam o país. Mesmo enfrentando um início repleto de dificuldades, onde a luta para conquistar espaço no cenário musical se fazia necessária, o talento de Pádua logo se destacou. Ele percorreu a ponte Goiânia/Rio de Janeiro, levando suas fitas cassetes para tentar emplacar suas músicas em um cenário considerado mais promissor, um reflexo do desejo de muitos artistas locais de alcançar reconhecimento nacional.

O dom artístico de Pádua floresceu na infância, onde começou a explorar o mundo dos desenhos. No curso ginasial, suas criações de cartoons, muitas vezes de crítica política, eram expostas em murais, mas enfrentavam a dura censura do regime militar da época. Esse ambiente, embora opressivo, moldou seu caráter e sua visão crítica, que se refletiriam em sua música e arte, em um momento em que a criatividade se tornava uma forma de resistência. Goiás, nesse contexto, era um caldeirão de efervescência cultural, com artistas buscando novas formas de expressão e um público cada vez mais sedento por vozes autênticas.

Na adolescência, a música entrou na vida de Pádua de forma decisiva. Durante um período de férias, conheceu Quim, um amigo carioca que lhe ensinou os primeiros acordes de violão. Esse momento foi transformador, levando sua mãe a presenteá-lo com seu primeiro violão e abrindo as portas para um novo universo: o da música. Os jovens da época se reuniam em praças e festivais, onde se celebrava a música popular brasileira, com uma rica mescla de influências regionais que dialogavam com os sons da capital. Em Goiás, era comum ouvir canções que misturavam ritmos locais com as novas tendências que surgiam pelo país.

Ainda assim, a vida exigia sacrifícios. Desde jovem, Pádua ajudava seu pai como servente de pedreiro, equilibrando trabalho e sonhos artísticos. Mesmo com uma rotina pesada, aos dezessete anos, decidiu se dedicar à arte, apresentando seus desenhos a jornais locais e conhecendo o cartunista Jorge Braga, que o incentivou a continuar. A cena artística em Goiânia, marcada por coletivos e grupos de teatro, fomentava uma atmosfera de colaboração e intercâmbio, onde as artes visuais e a música se entrelaçavam.

O reconhecimento não tardou. Nos anos 70, apresentou seus cartoons ao semanário "Cinco de Março", conquistando a atenção de Batista Custódio, que viu potencial no jovem artista. Isso resultou na publicação de suas obras em um suplemento humorístico, lançando Pádua no cenário artístico e preparando o terreno para sua carreira musical. A música goiana da época, repleta de poéticas urbanas e temáticas sociais, influenciou muitos artistas a buscar uma voz própria, e Pádua estava em sintonia com esse movimento.

Estabelecido como cartunista, Pádua se lançou na música. No início dos anos 80, começou a se apresentar em pequenos bares, como o "Mon Chateau". Sua paixão pela música o levou a se apresentar semanalmente, aprimorando suas habilidades e criando uma base sólida de fãs. Os bares de Goiânia eram espaços de encontros, onde a música popular se misturava com as tradições locais, e artistas como Pádua encontravam ali um campo fértil para explorar suas composições.

Após essas primeiras experiências, ele se apresentou em vários locais de Goiânia, como o famoso "Zero Bar", onde cantores locais ganhavam notoriedade. A transição para uma carreira musical profissional começou a se concretizar no bar "Cavalhadas", onde ganhou reconhecimento e respeito. A cena musical goiana da época também era marcada pela colaboração entre artistas, com festivais que promoviam a diversidade cultural e incentivavam a criação de novas obras.

Pádua sempre foi um artista engajado. Em 2017, ele se uniu ao cantor e compositor Tom Chris em um projeto intitulado "Por Outros Cantos", que visava levar a arte e a cultura goiana para as escolas, democratizando o acesso à música e à cultura para jovens goianos. Esse tipo de iniciativa era essencial em um estado onde a música era uma forma de resistência e afirmação da identidade cultural, especialmente entre as novas gerações.

A carreira de Pádua se consolidou através da participação em festivais. Em 1985, ele foi o vencedor do Comunica-som com a música "Pele", um marco que solidificou sua presença na cena musical. Seus sucessos refletem uma mistura de influências e uma linguagem única, que se tornaram características de seu estilo, sempre enraizado na cultura local, mas aberto ao diálogo com o que havia de novo no Brasil.

Sua discografia é vasta e rica, com álbuns que marcam diferentes fases de sua carreira. O primeiro registro em disco ocorreu em 1980, mas foi em 1985 que ele lançou seu primeiro compacto simples, com a música "Pele". A partir daí, seus álbuns foram ganhando destaque, cada um trazendo novas composições e influências que dialogavam com a cena musical nacional em evolução.

Em 1988, lançou o LP "Vôo de Cantor", onde a faixa "Louca Magia" se tornou um de seus maiores sucessos. O álbum seguinte, "Mestiço", em parceria com Sergio Sampaio, consolidou sua reputação como compositor de talento inegável. Ao longo dos anos, sua música evoluiu, refletindo mudanças pessoais e sociais que estavam em sintonia com o pulsar da sociedade brasileira da época.

O CD "Grãos de Alegria", de 1999, foi uma celebração da diversidade musical, assim como "Sortido", lançado em 2006, que trouxe uma mistura de ritmos brasileiros e internacionais. Sua obra não só dialoga com o presente, mas também resgata influências que moldaram a música brasileira ao longo dos anos, destacando a riqueza cultural de Goiás e a capacidade de seus artistas de se reinventarem.

Pádua é mais do que um artista; ele é um verdadeiro embaixador da cultura goiana. Suas canções, repletas de emoção e poesia, ressoam com o público, tocando o coração de quem as ouve. Ao longo de sua carreira, ele provou que a música é uma ferramenta poderosa de transformação e conexão entre as pessoas, sendo fundamental em um estado que sempre valorizou suas raízes e tradições.

O estilo musical de Pádua é caracterizado pela pluralidade, mesclando ritmos e influências que vão da MPB ao rock, do samba à música folclórica. Essa mistura não só enriquece sua obra, mas também a torna acessível a uma ampla audiência, refletindo a diversidade cultural do Brasil e, especialmente, a riqueza musical de Goiás.

Além de suas composições, Pádua também é reconhecido por sua habilidade como intérprete. Sua voz marcante e seu jeito único de interpretar as letras conferem uma nova vida às canções, criando uma conexão imediata com o público. Em seus shows, ele é capaz de envolver a plateia em uma experiência musical memorável, uma característica que sempre atraiu amantes da música em Goiás.

Durante sua carreira, Pádua colaborou com diversos artistas, ampliando seu repertório e diversificando sua sonoridade. Essas parcerias foram fundamentais para sua evolução como músico e compositor, permitindo-lhe experimentar novas linguagens e estilos, e refletindo a rica tapeçaria cultural que sempre permeou a música em Goiás.

A paixão de Pádua pela música é acompanhada por um compromisso social. Ele sempre se mostrou disposto a usar sua arte para promover causas importantes, como a educação e a inclusão cultural. Seu trabalho com comunidades e escolas é um exemplo claro de como ele busca democratizar o acesso à arte e à cultura, um reflexo do espírito comunitário que sempre caracterizou a música goiana.

Ao longo dos anos, ele recebeu diversos prêmios e reconhecimentos por sua contribuição à música brasileira. Esses honrarias são um testemunho do impacto que sua obra teve não apenas em Goiás, mas em todo o país, solidificando seu lugar na história da música. A trajetória de Pádua é um exemplo de como a arte pode transcender fronteiras e unir pessoas em torno de valores comuns.

Pádua continua ativo na cena musical, sempre buscando novas maneiras de se reinventar. Seu espírito criativo e sua determinação são inspirações para muitos jovens artistas que sonham em seguir seus passos. Ele é uma prova viva de que, com dedicação e amor pela arte, é possível superar barreiras e alcançar o sucesso, um conceito que ecoa fortemente entre os músicos goianos.

Com sua dedicação e amor pela arte, Pádua continua a inspirar novas gerações de músicos e artistas. Sua jornada é um testemunho de que, com talento e perseverança, é possível superar desafios e deixar uma marca indelével na história da música brasileira, especialmente em um estado tão rico culturalmente como Goiás.

Pádua não é apenas um artista; ele é um legado da cultura goiana. Suas canções ecoam as vivências de seu povo, suas tradições e suas lutas. Cada letra escrita por ele carrega um pedaço da alma goiana, e sua música se torna um veículo de expressão da identidade cultural, ressoando com o orgulho de uma região que sempre teve muito a oferecer.

Em cada apresentação, Pádua traz consigo a essência de Goiás. Seu amor pela terra natal é palpável em suas canções, que celebram a vida, a natureza e as relações humanas. Ele é um verdadeiro porta-voz de sua cultura, levando o som de Goiás para palcos em todo o Brasil, onde sua música é recebida com entusiasmo e carinho.

À medida que olhamos para o futuro, é certo que Pádua continuará a escrever sua história, adicionando novos capítulos a uma trajetória já tão rica. Com cada nova canção, ele nos lembra da importância da música como forma de arte e de resistência, e de como ela pode unir pessoas e comunidades em torno de causas comuns.

Por tudo isso, Pádua é uma figura emblemática na música brasileira, um artista que não só canta, mas também vive e respira arte. Sua paixão pela música e seu compromisso com a cultura fazem dele um verdadeiro ícone da música goiana e brasileira, perpetuando as tradições e inovando ao mesmo tempo, assegurando que a voz de Goiás continue a ser ouvida.