Cinco clássicos para conhecer a literatura alemã

Cinco clássicos para conhecer a literatura alemã

 

A literatura de língua alemã é cheia de escritores de primeira linha, e o século 20 deu motivos diversos e de sobra para grandes títulos. 
Os livros a seguir são indicados face à boa tradução para o português e que não estejam esgotados, tarefa bem mais complexa. 
Estão inclusos autores não só alemães, e de vários períodos. Ficaram de fora um representante suíço (por onde anda Max Frisch, editoras?) e um da RDA, como Christoph Hein, por falta de opção no mercado. 
Tratam-se de obras-primas, Mann e Kafka, por um lado, e Bernhard (em sebos virtuais) e Sebald, por outro, compõem um panorama extraordinário da cultura germânica do século passado.

1) A Montanha Mágica 
Thomas Mann 
(Companhia das Letras, 2016. Tradução de Herbert Caro)

Poderia citar cinco romances de Thomas Mann (1875-1955) nesta lista, mas minha ponderação manda privilegiar também aqueles abaixo dele. 
Primeiramente, “A Montanha Mágica” (1924). Trata-se de um romance de formação à maneira de seu autor: irônico e provocador, além de original, já que o protagonista Hans Castorp, em vez de correr o mundo em busca de ilustração, prevê uma visita de três semanas num sanatório em Davos, mas lá permanece sete anos, para curar uma tuberculose. Mesmo recolhido, é no topo da montanha que ele conhece o mundo (filosofia, arte, política e os meandros do amor), graças a Ludovico Settembrini e Leo Naphta, personagens que você nunca mais esquecerá.

2) O Processo 
Franz Kafka 
(Companhia das Letras, 2006. Tradução de Modesto Carone)

Quando leu trechos de “O Processo” (1925) para amigos, Franz Kafka (1883-1924) causou crises de riso, inclusive nele próprio. O enredo acabou cunhando uma situação que dizemos “kafkiana” – quando somos submetidos ao absurdo de certos entraves burocráticos. Ou seja, só nos resta morrer de rir, mesmo se algumas vezes, inocentes ou culpados, somos expostos a um julgamento sem ao menos saber o porquê – como foi o caso do protagonista Josef K.. Escrito em 1914, mas publicado postumamente, o livro é a principal obra do escritor tcheco (embora eu também goste demais das narrativas curtas), autor dentre “os mais dignos de leitura da literatura mundial”, segundo Thomas Mann, em 1949.

3) Doutor Fausto (1947) 
Thomas Mann 
(Companhia das Letras, 2016. Tradução de Herbert Caro)

Um livro escrito no calor do pós-guerra nos últimos anos do escritor, ainda no exílio californiano, só poderia vir a ser sua obra mais profunda, (auto)irônica, multifacetada e com toques autobiográficos: “Doutor Fausto” (1947). 
Partindo do mito do Fausto, que pactua com o diabo (como, à época, o povo alemão), o romance é também um ensaio que discute arte – particularmente música – e uma feroz crítica ao nazismo. 
E é a biografia do talentoso compositor Adrian Leverkühn, contada pelo seu amigo de infância Serenus Zeitblom. 
Por todos os motivos, é preciso fôlego para vencer esse tratado histórico-filosófico-musical em forma de romance. Mas a recompensa não tem preço.

4) Extinção (1986) 
Thomas Bernhard 
(Companhias das Letras, 2000. Tradução de José Marcos Mariani de Macedo)

Última grande obra em prosa do austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), “Extinção. Uma derrocada” (2000) é o monólogo interior de Franz-Josef Murau, que recebe a notícia da morte dos pais e do irmão num acidente. 
O fato e o retorno a Wolfsegg, de onde “fugiu” para viver em Paris, Lisboa e Roma, fazem-no lidar com seu “complexo de origem”.
Lembranças são elaboradas na tentativa de extingui-las (“meu relato só se presta para a extinção do que nele está relatado”), assim como se extingue o narrador, como saberemos. 
Destaque para a própria literatura e o pensamento (das Denken) como temas; e para sua escrita rítmica, que “tem muito a ver com música”.

5) Vertigem (1990) 
W. G. Sebald 
(Companhia das Letras, 2008. Tradução de José Marcos Mariani de Macedo)

A obra de W. G. Sebald (1944-2001) já foi comparada à de Borges, Calvino e Nabokov, assim como à de Kafka e Thomas Bernhard. Faz sentido – com a diferença de que o alemão foi mais além, ao usar recursos que lhe conferem destaque dentre os seus contemporâneos. 
As imagens que acompanham o texto estão ali menos para esclarecer do que para confundir. 
Um dos protagonistas chama-se Sebald, mas não se trata de uma autobiografia. São algumas pistas de sua originalidade. Vertigem (2008) é seu romance de estreia – e poderia ser chamado de relato de viagem, memórias, ensaio filosófico. O título faz jus ao que o leitor pode esperar: para além da vertigem, sensações – não por acaso, seu subtítulo.